O processo histórico do Reino de Deus faz uma trajetória ancorada nos ensinamentos do Evangelho de Jesus Cristo, consolidado e fundamentado em características essencialmente éticas e humanas, dentro da lógica transformadora das exigências próprias do reino da vida. Isto é diferente da lógica do ódio, da intolerância, do poder, da vingança, mas supõe perdão, misericórdia e amor.

As relações que acontecem, normalmente, na convivência comunitária, os embates políticos e sociais, quando não se segue as instruções seguras sugeridas pela Palavra do Evangelho, logicamente não deixam de desagradar a Deus e conduz à perda do verdadeiro sentido e dignidade da vida humana. Essa forma de agir favorece muito a prática da violência e do desrespeito ao outro.

No podemos descartar o valor imensurável da consciência ética, que é base divina para a lógica transformadora da pessoa e da sociedade, tanto nas relações sociais, como políticas e religiosas. Parece existir um evidente desequilíbrio entre poder egoísta e ética, principalmente porque falta a ética do perdão, da não vingança, de onde surgem muitas tensões nas relações sociais na nova cultura.

Convivemos com uma enorme diversidade étnica, cultural e religiosa, com preponderância de atitudes totalmente racistas, um desafiante extremismo econômico e uma incapacidade fraterna de partilha. Sem uma lógica transformadora dessas realidades, é quase impossível harmonizar e atingir a utopia da vida saudável. Mas temos que acreditar que uma sociedade diferente é possível de acontecer.

Numa dimensão de espiritualidade, podemos dizer que, em Jesus Cristo, a vida eterna pode ser uma realidade concreta para todos. Começa pelo respeito que devemos ter para com a natureza criada, terreno de onde brota a possibilidade da vida eterna. Quem não planta, não colhe, porque não há transformação. Fica sempre como o homem Adão e não dá o passo de ser o Homem Cristo.

A transformação da pessoa deve ter uma lógica espiritual, tendo ela a capacidade de passar do âmbito terreno para o eterno em Deus. Para isto, Jesus é revolucionário e exigente ao dizer: “amem seus inimigos e façam o bem aos que os odeiam” (Lc 6,27). A verdadeira humanidade, isto é, o amor também aos inimigos, o bem a todos, são condições essenciais para se ter a vida eterna.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.