Justo por excelência
16/09/2021O perfil e a maneira de viver de Jesus, conforme a justiça divina, manifesta uma prática de excelência. Na visão bíblica, Ele é o justo por excelência, porque soube harmonizar a sabedoria do alto com a terrena no dia a dia da comunidade onde viveu. Isto está evidente no seu espírito de serviço, na humildade, contrapondo todo tipo de ambição e triunfalismo que facilitam ações injustas.
Diante de uma cultura viciada e repleta de mecanismos, que abrem caminhos para ações injustas, não é tão fácil ser justo com excelência, porque exige a sabedoria que vem de Deus. Não só Jesus, mas todos os que são identificados como santos tiveram a marca da justiça, realizada com excelência. Essa prática está envolvida com os valores que sustentam a estabilidade da dignidade humana.
Existe atualmente uma mentalidade corrompida, injusta e sem princípios, facilitando oposição aos que procuram ser justos, porque incomodam os injustos por não viverem e não compactuarem com a ganância, a corrupção e a violência. As pessoas justas têm uma característica de humildade, mansidão e paciência. O que acontece é que muitos justos, por causa da justiça, são perseguidos.
O Reino de Deus é manifestação de justiça, como prática da sabedoria divina. É projeto de defesa da vida, contraposto ao projeto dos injustos, causadores de morte. Isto significa que a injustiça, fortalecida pela inveja e rivalidades, é contra os preceitos de Deus. É impossível ter paz quando há conivência com atos de injustiça, porque falta equilíbrio, serenidade e relação com Deus.
A injustiça também tem forma de excelência, principalmente quando ela está envolvida com as atitudes de ambição e de corrupção do poder, porque isso alimenta rivalidades entre pessoas. O cenário brasileiro do momento vive essa prática de excelência da injustiça. Quem sofre com isto é o povo, os mais carentes, porque o egoísmo de muitos impede uma sociedade de igualdade de seus membros.
Muitas incoerências existenciais impedem o seguimento de Jesus, porque falta harmonia entre seus ensinamentos e a prática da vida concreta. A falta de sinceridade e humildade faz a pessoa viver num mundo de insensibilidade. Ela perde a capacidade de partilha, o espírito comunitário que, em vez de contribuir com o bem comum, acaba sendo agente de exploração e sofrimento para muitos.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba