Humanidade Ferida
10/12/2020A existência das culturas, que marginalizam as pessoas e provocam um significativo aumento da pobreza e da miséria, reflete o tipo de projetos econômicos, políticos, sociais e religiosos que estão sendo geridos no mundo. Com isto, toda a sociedade, de uma forma ou de outra, fica ferida e assaltada na sua identidade. Há necessidade do surgimento de bons samaritanos com seus gestos de fraternidade.
Na Encíclica “Fratelli Tutti”, Papa Francisco diz que estamos na hora da verdade, de superação da mentalidade egoísta para cuidar de quem está ferido em sua dignidade. Não ter medo de aproximar-se de quem está caído pelo caminho, mergulhado em suas crises. A história do bom samaritano precisa acontecer hoje para ajudar os marginalizados por uma economia de disputas pelo lucro.
Num mundo de tantos salteadores, daqueles que agem firmados em práticas totalmente sem espírito e critérios humanos, eles acabam provocando densas sombras e violência na sociedade. São atitudes feitas por interesses mesquinhos de poder e acúmulo. É difícil ficar indiferente mediante tais situações, porque elas degradam a ordem humana e provocam transtorno na convivência social.
Pode-se dizer que é lamentável e perigoso ficar indiferente diante dos problemas. Temos muita facilidade, mesmo sendo pessoas religiosas, de passar ao lado dos que estão marginalizados, apenas olhar, desprezar e não fazer nada. Significa ser cristão dentro do templo e sem ação diante dos problemas que estão lá fora. É triste hipocrisia, que ocasiona desconfiança e perplexidade.
Não faz bem viver numa cultura que provoca desencanto e falta de esperança no esforço de mudança cultural. É importante ter consciência de que não é impossível construir uma nova sociedade, uma prática diferente e sem muitos feridos e marginalizados. Mas supõe por a mão na massa, sair do comodismo, de uma religião com espiritualidade desencarnada e transformar a fé em obras.
Existe hoje muito espaço para a construção do bem, para a mesma prática do bom samaritano. O problema é quando repetimos a lógica dos violentos, dos que nutrem ambições egoístas, pensando só em si mesmos, espalhando confusão e mentira no meio em que exercem relações na sociedade. É fundamental alimentar o que é bom e colocar nossa ação ao serviço do bem das pessoas.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba