Hoje da História
17/03/2025O passado e o presente bíblicos se encontram em uma perfeita continuidade, deixando evidente a prática da Lei antiga do Decálogo e a presença de um profetismo atuante através da figura de Moisés e dos profetas, daqueles que marcaram profundamente a vida do Antigo Testamento. Agora é tempo de anunciar o Evangelho, Palavra concreta de Jesus e tornada missão na vida da Igreja.
Jesus é o novo profeta de Deus, recente imagem de Moisés, com uma palavra motivadora de vida atual de conversão, daquilo que é mensagem central da quaresma. Entendemos isto como uma nova travessia do deserto em busca de liberdade e encontro fraterno com Deus. O desabrochar dessa caminhada quaresmal é estar na direção da terra prometida, período penitencial, para chegar à Páscoa.
O Senhor confiou na autenticidade de Moisés. Exigiu dele determinação ao conduzir o povo pelos difíceis caminhos do deserto. Deveria tirar as sandálias dos pés (cf. Ex 3,5) e, ao mesmo tempo, gastá-las para colocar em prática as exigências dos Mandamentos do Decálogo. Desta forma, aconteceu a condução e a presença de Deus na libertação da história da humanidade, no Antigo Testamento.
Diante do chamado divino, Moisés teve que apresentar ao povo a identidade de Deus para que todos acreditassem nas suas palavras. Mas, é o mesmo Senhor quem define seu próprio nome: “Eu sou aquele que sou” (Ex 3,14). Deus é o “ser”, que não tem propriamente um nome, mas tem uma presença real do que é. Mais tarde, aparece como sendo Javé, que mostra seus planos a Moisés.
A cena de libertação do povo, ao atravessar o Mar Vermelho a pé enxuto, é indicativo de purificação, de libertação, que nos leva a pensar no sentido do batismo, instituído por Cristo. Ele usa a água como fonte de purificação e motivação para uma verdadeira pertença à comunidade Igreja. O maná, que o povo recebeu pelo caminho do deserto, remete ao sacramento da Eucaristia, alimento do cristão.
A Quaresma é uma indicação do hoje da salvação. Não é o passado e nem o futuro, porque nenhum deles existe. O presente é o agora, a prática da vida cristã do momento, dentro do processo de conversão, enquanto é tempo, e valorização da ecologia integral, de recuperação da natureza ferida por más gestões. Só chegamos à Páscoa definitiva se realizarmos gestos de fraternidade e justiça.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.