Envolvimento
20/04/2020Na constituição e estrutura do ser humano está presente um dos dons fundamentais, a capacidade relacional, que dá habilidade à pessoa para a convivência social e o envolvimento comunitário. Isto tem que ser exercitado na construção do histórico de cada indivíduo, saindo de sua individualidade fechada, intocável, para praticar uma convivência fraterna e saudável nas realidades hodiernas.
A pessoa que não se envolve com realidades que o cercam acaba contribuindo pouco para o necessário desenvolvimento da sociedade. Falando de Igreja, isso tem uma dimensão muito importante, principalmente nas palavras do Papa Francisco quando ele se refere à Igreja “em saída”, de ida ao encontro das diversas realidades e comunidades passíveis do anúncio do Evangelho.
No momento da pandemia do coronavirus, o envolvimento tem dimensão diferente, porque o contato com outras pessoas pode estar contribuindo muito para o crescimento da contaminação. Mas o isolamento social pode ajudar no relacionamento familiar, na prática da convivência e de maior compromisso com as exigências do lar. Todos nós estamos condicionados às orientações do momento.
Toda pessoa têm seu próprio estilo de vida, que revela um pouco a sua identidade. Mas existe a possibilidade da mudança de comportamento, principalmente quando se tem que encarar novas realidades no formato da convivência comunitária. É bem notório que o ambiente consegue mudar a maneira de ser de quem ali vive e convive, talvez até eliminando as marcas fortes da infância.
A ressurreição de Jesus provocou um cenário totalmente diferente na vida dos primeiros cristãos. À primeira vista ficaram muito confusos e com comportamentos de desconfiança. Alguns até se afastaram de Jerusalém, como os discípulos de Emaús. Mas conseguiram refazer seu itinerário quando foram envolvidos e convencidos por Jesus ressuscitado enquanto caminhavam.
Envolvimento supõe também diálogo, convivência, confiança e fraternidade. Isso ajuda a pessoa a ter força para agir, porque uns acabam ajudando os outros causando solidez na esperança. Ficar isolado é colocar em risco a própria existência por não ter com quem contar nos momentos mais difíceis da vida. A experiência que estamos tendo do isolamento social pode revelar essa realidade.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.