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Cultura do Pânico

16/09/2021

Experimentamos tempo de terrorismo ameaçador da vida no planeta. É realidade de pânico e pessimismo, corroborado agora pela agressividade do vírus pandêmico, que vem ceifando tantas vidas em todo o mundo. O mais grave é a política da fome, da pobreza, das injustiças, das opressões, das armas letais e das arrogâncias, que ameaça a segurança e a paz em dimensão mundial.

 

Na autêntica convicção religiosa, a vida humana é sagrada, constituindo fundamento para a humanidade. Isso possibilita a via do diálogo, do perdão e do crescimento, mesmo no meio de tantas vozes diferentes, e até contraditórias. Significa que o grito fanático de ódio e a violência fundamentalista e imprudente de determinados líderes, inclusive de tradição religiosa, podem ser superados.

 

Em vez de fermentar pânico no meio do povo, os principais líderes, em todas as dimensões da cultura, devem ser instrumentos e mediadores do diálogo, conscientes de que o único lucro é a paz. Para isto é necessário extinguir o clima do ódio, da construção de muros e abrir caminhos para a construção de pontes. Essa tem sido a prática sugerida e conduzida pelo Papa Francisco no seu ministério.

 

O Papa faz um apelo insistente para que as religiões não sejam causadoras de guerras e nem de ódio, porque isso não passa de desvio dos ensinamentos religiosos e do uso político das religiões. É afetar e abusar dos sentimentos dos outros. Ele fala do cuidado no uso do nome de Deus para aterrorizar as pessoas com intenções escusas. O Papa apela para a paz, a justiça e a fraternidade.

 

Deus criou todos iguais em direitos, deveres e dignidade. Isso implica direito à vida. Matar uma pessoa é como matar toda a humanidade e salvar uma pessoa é como salvar toda a humanidade. O que mais importa é projetar e construir uma cultura saudável, onde as desigualdades não sejam tão desastrosas. Tudo deve convergir para a unidade fraterna, sem pânico e sem desvio do essencial.

 

Em vez de uma cultura do pânico, o Papa Francisco insiste na cultura do diálogo, como conduta, método e critério para criar fraternidade universal. Foi o que fizeram, no seu entender, São Francisco de Assis, Martin Luther King, Desmond Tutu, Mahatma Gandhi e Carlos de Foucauld. Ele termina a Fratelli Tutti falando de nossa identificação com os últimos, sendo “irmão universal”.

 

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba

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