A cegueira é uma condição que afeta profundamente a visão, podendo ser total ou parcial. Mas, a pior cegueira é a mental, interior, que faz com que a pessoa não consiga reconhecer o que vem pela frente na história de todos. Por exemplo, estamos caminhando para a destruição do planeta. No agir das novas gerações não há a preocupação em perguntar como é que vão viver os que virão depois.

Assim aconteceu com a vida de um cego do Evangelho, chamado Bartimeu, que era mendigo e estava sentado à beira do caminho pedindo esmola (cf. Mc 10,46). Não tem sentido hoje fechar os olhos para as realidades que nos cercam, tanto boas quanto ruins. A cegueira impede que a pessoa faça sadio discernimento. O cego fica sempre dependente de outros para conduzir seu próprio destino.

Não enxergar significa ter uma limitação humana, que pode criar na pessoa um desafio para o futuro. Os olhos podem ver muito bem, mas a mente sombreada não consegue sentir a dimensão e as consequências dessa quase cegueira. A origem disso pode ser fruto de uma má formação intelectual, de pouca consciência crítica e de extremismos ideológicos, que cegam totalmente a pessoa.

Bartimeu, que estava à beira de um caminho e, sabendo da passagem de Jesus por ali, começou a gritar em alta voz pedindo a Ele um gesto de compaixão, mas muitos o repreendiam para que se calasse. É como ouvir o grito de muitos indivíduos abandonados na sociedade totalmente sem condição para produzir. A cegueira social e econômica impossibilita a pessoa de ter uma vida digna.

A possibilidade de real saída da vulnerabilidade social, da cegueira e da pobreza extrema, depende essencialmente da ação pertinente e responsável do poder público. Uma boa administração dos bens da natureza conduz a uma melhor distribuição das riquezas. É para isto que elegemos os novos dirigentes municipais, com a esperança de que a administração leve em conta os mais pobres.

Quem enxerga com os olhos e o coração consegue ser mais maleável, diferente e evita emudecer a voz das pessoas. Consegue também caminhar firme e criar coragem na vida daqueles que estão desanimados e mergulhados na absoluta falta de esperança. Muitos são curados dessas cegueiras, principalmente aquelas causadas pela ignorância intelectual, que impedem a pessoa de ver longe.

Dom Paulo Mendes Peixoto

Arcebispo de Uberaba.